A Reforma Protestante trouxe uma grande conquista para a Igreja de Cristo. Lutero considerava que a distância entre o povo de Deus e Sua Palavra levaria a Igreja à corrupção; assim, se propôs ao estudo dos idiomas originais e ao ensino da Bíblia como única autoridade e regra de fé para a Igreja, “Sola Scriptura”. Aos 31 de outubro de 1517, as 95 teses luteranas foram fixadas na Igreja do castelo de Wittenberg.
Antes da Reforma, a leitura da Bíblia estava reservada aos conhecedores dos idiomas originais e do latim; Lutero inicia um sistema de educação para que o povo pudesse aprender a leitura bíblica em alemão, de modo que a Bíblia passa ser acessível a todos. Assim, a Bíblia passa a ter o devido reconhecimento como verdadeira Palavra de Deus.
Ao aproximar-se da Bíblia, o cristão deve ter a consciência de que não se trata simplesmente de mais um livro. Embora seja um material compilado por seres humanos e que deve ser estudado segundo regras comuns de interpretação textual, a verdadeira Palavra de Deus está revelada na Bíblia Sagrada, segundo a inspiração divina sobre os escritores do Antigo e do Novo Testamentos.
1.1. O ESTUDO PESSOAL DA BÍBLIA
O estudante da Bíblia deve ter uma postura de reverência para com ela, devido ao conhecimento de seu Autor (1Ts 2.13); de desejo por encontrar-se com o Senhor, pois Ele assim promete (Jr 29.13); de disposição e humildade para obedecer ao Senhor (Sl 25.9; Is 66.2; 1Co 2.14-15); de perseverança, pois a Bíblia serve de bússola para a jornada até Deus (Jo 8.31; 2Pe 1.3-11).
Além da postura necessária para estudar o Texto Sagrado, o cristão deve se aproximar da Bíblia buscando mais do que acúmulo de conhecimento. Deve buscar na Bíblia, em primazia, a salvação (Jo 5.24, 39, 6.68; Ef 1.13; 2Tm 3.15; Tg 1.21); a direção para os seus caminhos (Sl 119.105); fé (Rm 10.17); a esperança (Rm 15.4; 2Pe 1.19); a alegria (Sl 19.8; Jr 15.16); a paz (Sl 119.65); o sustento (Dt 8.3; Mt 4.4; 1Tm 4.6); o crescimento (1Pe 2.2); a pureza (Sl 119.9; Jo 15.3; Ef 5.26; 1Pe 1.22); a santidade (Jo 17.17; Ef 5.26); a maturidade (Hb 5.12-14); a sabedoria (Sl 119.98-100; 2Tm 3.15); as defesas espirituais (Mt 4.1-11; Ef 6.17); a eficácia espiritual (2Tm 3.16-17); a introvisão (Hb 4.12; Tg 1.22-25); a cosmovisão (Rm 16.25-27) e a bem-aventurança (Sl 119.1; Lc 11.27-28; Ap 1.3).
O estudo pessoal da Bíblia capacita o cristão a pensar por si mesmo a respeito de sua fé e das doutrinas bíblicas, de modo a experimentar a alegria da descoberta pessoal. Também capacita o estudante a avaliar palestras, preleções e materiais de estudo de maneira crítica, auxiliando os demais na compreensão e aplicação da Palavra de Deus. Estudar a Bíblia devocionalmente leva o cristão a conhecer melhor e desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus, que se revela em Sua Palavra. Isso é crescimento espiritual.
Além disso, o estudo pessoal prepara o estudante para manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15), evitando erros quanto ao contexto e aplicação de textos bíblicos (2Pe 1.20; 1Co 2.13).
1.2. A BÍBLIA COMO REVELAÇÃO DE DEUS
Uma vez que a Bíblia se apresenta como a verdade revelada de Deus, deve ser compreendida como obra sobrenatural deste.
1.2.1. Inspiração
Para que a Bíblia chegasse aos dias atuais na forma como está, Deus se valeu de autores humanos, que foram inspirados por Ele para a compilação dessa obra (1Ts 2.13). Inspirado significa soprado, exalado por Deus, ou seja, embora escrevendo segundo seu próprio ponto de vista (Js 10.13), produziram obras segundo a vontade de Deus.
1.2.2. Iluminação
Ao passo que a inspiração foi a obra mediante a qual Deus usou homens para a produção literária de sua revelação, a iluminação é o ministério do Espírito Santo, que esclarece as verdades reveladas na Bíblia para seus leitores (Jo 16. 12-15). É importante que o estudante sincero peça que o Espírito de Deus sonde seu coração (Sl 139.23,24), confessando seus erros (Sl 32.5; 51.2,7,10,17; 66,18; 1Jo 1.9), segundo o Espírito Santo ensina mediante a Palavra de Deus e, assim, pedir um coração receptivo, sedento e obediente (Sl 42.1,2; Pv 23.12; Hb 10.22).
2. PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O ESTUDO BÍBLICO
2.1. LEITURA
Uma vez que a revelação de Deus foi registrada através da escrita, é imprescindível que o cristão se dedique em aprimorar sua capacidade e seus hábitos de leitura. É preciso ler bastante, além de ser necessário que se desenvolva gosto pela leitura, de modo que deixe de ser uma obrigação e passe a proporcionar prazer para o leitor.
O temor do Senhor e a oração devem preceder, acompanhar e suceder a leitura da Bíblia. O ambiente acadêmico não pode levar o estudante a conceber a Escritura e a espiritualidade de seu conteúdo como mero material de pesquisa.
Estudar exige atenção, interesse e entrega ao texto em questão. É importante ler repetidamente e, se possível em mais de uma tradução. Bíblias de estudo podem ser muito úteis, mas possuir várias versões e diferentes traduções é ainda mais importante para desenvolver a compreensão do texto por si só.
Ter paciência para a leitura e saber exatamente a que o texto está se referindo é indispensável, além da meditação sobre o assunto, extraindo aprendizado e compreendendo plenamente o objetivo da passagem, descobrindo, assim, informações no texto que sejam úteis para a vida prática.
Sublinhar ou destacar textos, utilizar as margens para fazer anotações são hábitos que ajudam muito o estudante.
2.2. MEMORIZAÇÃO
Quanto à memorização, o treino é o melhor caminho, pois cada pessoa tem uma forma específica para conseguir decorar; algumas têm facilidade para lembrar o que ouvem, de modo que, lendo em voz alta, obterão melhores resultados; outras pessoas lembram melhor o que vêem, assim, marcar a Bíblia pode ajudar; os sensitivos, por sua vez, podem optar por transcrever os textos.
Diferente do processo de estudo para a interpretação, onde uma variedade de versões é significativamente melhor, no processo de memorização o estudante deve optar por uma única versão.
2.3. MATERIAIS DE APOIO
A Bíblia é a única fonte de material de estudo inspirada por Deus; contudo, é importante fazer uso do que outros cristãos deixaram como registro de suas pesquisas. Muitas informações contidas no Texto Sagrado serão mais bem elucidadas por pessoas que tenham conhecimento técnico em determinadas áreas do conhecimento (geografia, história, literatura, etc.). Porém, o cristão deve ter no texto a primazia de suas pesquisas para não se tornar mero reprodutor de opiniões alheias.
A escolha de local e momento adequados, livres de interrupções, é importante para o melhor rendimento dos estudos; além disso, o estudante da Bíblia deve munir-se do material adequado:
Outros materiais importantes: Softwares de Bíblia; Enciclopédias; Diversas versões da Escritura; Caderno para anotações; Computador.
3. ETAPAS DO ESTUDO BÍBLICO
Independente do método ou do propósito do estudo bíblico (seja uma leitura corriqueira, a preparação de um sermão ou mesmo uma pesquisa de nível acadêmico), existem três etapas fundamentais para a compreensão e estudo de qualquer passagem bíblica:
3.1. OBSERVAÇÃO
Por vezes, ao estudar determinada passagem bíblica, o estudante não consegue extrair todo o conteúdo que esta contém, de maneira a pensar que aquele texto não contém tantas informações relevantes. Porém, ao ler um comentário ou ouvir uma preleção feitos por outra pessoa, fica impressionado com o conteúdo que o autor ou preletor consegue obter através de um bom estudo.
Esta primeira etapa do estudo bíblico é a observação, na qual o pesquisador se dedica a trazer à tona todo o conteúdo e a riqueza dos detalhes da passagem que deseja estudar, a fim de extrair subsídios para as demais etapas do estudo.
3.1.1. O tema do estudo
Em primeiro lugar, o estudante deve estar interessado na pesquisa que irá realizar, caso contrário, desistirá ou realizará um trabalho superficial. O interesse pelo estudo de determinada passagem surge, muitas vezes, de uma leitura descomprometida que o cristão faz por prazer, a fim de simplesmente meditar em um trecho bíblico; disso surgem curiosidades e o desejo de compreender melhor a amplitude da revelação de Deus naquela passagem. Outras vezes, um tema que gera polêmica ou dúvidas ao cristão e aos seus irmãos o incentivam a pesquisar com interesse o assunto. De uma ou de outra forma, a pesquisa será mais bem sucedida se partir de um interesse pessoal, de um desejo sincero pelo assunto.
3.1.2. A leitura do texto
Esforço e perseverança são fundamentais para que todos os pormenores sejam extraídos do texto, fazendo o registro por escrito de cada detalhe observado de modo sistêmico e de fácil consulta, para possibilitar a posterior organização das informações.
É necessária atenção completa a cada detalhe, sem perder a visão holística, dedicando concentração e tempo. Ler a passagem cuidadosamente e repetidamente, meditando em cada palavra e visualizando mentalmente o que o texto diz com bastante paciência.
3.1.3. Análise do texto
3.1.4. Estrutura literária do texto
Passo indispensável para uma observação completa é determinar a estrutura literária do texto, pois a forma de interpretar será definida por essa estrutura: Narrativa (Gn 6); Didática (Mt 5); Admoestação (Gl 1.6-12); Poesia (Salmos, Cântico dos Cânticos); Parábolas (Mt 13.3-19); Profecia (Isaías, Jeremias, Ezequiel); História (Josué); Sabedoria (Provérbios, Eclesiastes); Epistolas; Escatologia (Apocalipse). Perceba-se que um livro ou passagem pode estar inserido em mais de um gênero literário ao mesmo tempo.
3.1.5. Palavras-chave
Palavras cuja definição determina o significado de pontos cruciais da passagem como um todo. Por exemplo, a palavra aliança (gr: diatheke) que aparece em Hb 12.24 significa “um contrato celebrado entre duas pessoas onde o contratante estabelece as cláusulas e condições a serem aceitas pelo contratado”. Jesus é o mediador desta nova aliança estabelecida entre Deus e homens. A partir do momento em que tal aliança é feita por iniciativa de Deus, as bênçãos relacionadas a ela serão desfrutadas por todos quantos fizerem parte desta aliança.
Por fim, é necessário fazer um apanhado geral das anotações e observações para que os detalhes não se percam.
3.2. INTERPRETAÇÃO
Uma vez feita a observação, é necessário interpretar os textos em análise. Para não cometer distorções e evitar possíveis erros, é necessária a observação das regras hermenêuticas, ou seja, as regras de interpretação do texto bíblico.
A hermenêutica é a ciência, arte e técnica de interpretar corretamente a Palavra de Deus. A regra fundamental da hermenêutica bíblica é:
A Escritura Sagrada interpreta a si mesma.
O primeiro a transgredir a regra mais básica da interpretação bíblica foi Satanás, distorcendo o significado das palavras de Deus, omitindo parte do conteúdo e citando apenas o que lhe convinha:
“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Gn 3.1-5
Ao se deparar com interpretações diferentes ou contraditórias, o intérprete deve buscar o texto na Bíblia, tendo a regra fundamental como norte para sua averiguação da veracidade do significado do texto. Pedro ensina que nenhuma escritura é de particular interpretação (2Pe 1.20), ou seja, a Bíblia interpreta a própria Bíblia. Partindo desta regra, há cinco regras básicas e indispensáveis para a interpretação de todo e qualquer texto bíblico:
3.2.1. Primeira Regra da Hermenêutica
Enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu sentido usual e ordinário.
Os escritores bíblicos escreveram com o propósito de deixar uma mensagem clara ao povo de Deus e ao mundo, usando palavras conhecidas pelo povo em geral da época em que o texto foi escrito. Assim, devem-se interpretar as palavras no sentido simples do que elas significam e do que elas significavam para os seus destinatários originais.
Exemplo:
“Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”. Sl 8.6-8.
No texto acima, as ovelhas seriam os crentes em Cristo e os peixes os homens que precisam de evangelização? Esse é um tipo de erro comum que pode ser evitado se a primeira regra for respeitada: Ovelhas são ovelhas e peixes são peixes, simplesmente.
Exemplo:
“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno”. Mt 5.29
É óbvio que Jesus não está sugerindo a automutilação, mas usando um modo próprio de expressão do idioma original, enaltecendo a vantagem de sacrificar algo valioso com o objetivo de obedecer à vontade de Deus – ainda mais valiosa.
3.2.2. Segunda Regra da Hermenêutica
É absolutamente necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase.
É preciso questionar o pensamento do autor para determinar o sentido correto que a palavra assume dentro de uma frase, pois, tanto na Bíblia quanto em qualquer outra literatura, o sentido das palavras muda de acordo com a frase em que estão inseridas.
Por exemplo, o significado assumido pela palavra sangue nos diversos textos bíblicos:
Mt 16.17: “Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”.
Mt 27.4: “Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo”.
Mt 27.6: “E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue”.
Mt 27.25: “E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!”.
Jo 19.34: “Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”.
3.2.3. Terceira Regra da Hermenêutica
É necessário tomar as palavras no sentido que indica o contexto, isto é, os versos que precedem e seguem o texto que se estuda.
Quando a frase ou versículo não são suficientes para definir o significado do termo, deve-se recorrer aos versículos que antecedem ou sucedem o trecho bíblico.
Exemplo:
Ef 3.4: “...pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo”.
Com base no trecho sublinhado, é possível admitir que Paulo soubesse coisas a respeito de Cristo que não registrou na Bíblia? Poderia o pregador deste texto incentivar os ouvintes a orarem em busca da revelação deste mistério? A análise dos versículos que antecedem e sucedem este trecho revela que não:
“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” Ef 3.1-6.
O texto na íntegra revela que o mistério nada mais é do que a participação dos gentios na Nova Aliança em contraste com a Antiga.
Exemplo
Pv 8.17: “Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram me acham”.
.
Com base neste texto, é possível afirmar que Deus não ama os pecadores? E quanto a dizer que Deus amou o mundo (Jo 3.16)? Ou o texto que diz que Deus é amor (1Jo 4.8)? Será que há limites para o amor de Deus? É verdade que Deus prefere as orações feitas de madrugada a outras em qualquer outro horário? Veja-se o contexto:
“Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de conhecimentos e de conselhos. O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza. Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça. Por meu intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da terra. Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram me acham. Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça”. Pv 8.12-18.
O contexto revela que o texto se refere à sabedoria, que só ama os que a amam e só é achada por aqueles que passam as madrugadas estudando e meditando para adquiri-la. Deus ama a todos e ouve as orações realizadas em qualquer hora e lugar.
A regra do contexto não se limita aos versículos ou mesmo ao capítulo que está sendo analisado, pois este pode não ser suficiente para esclarecer o seu sentido. Assim, a regra do contexto é gradativa: Palavra – Frase – Capítulo – Livro – Bíblia.
3.2.4. Quarta Regra da Hermenêutica
É preciso tomar em consideração o desígnio ou objetivo do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.
Para compreender o desígnio ou objetivo do livro, é necessário estudá-lo e analisá-lo exaustiva e minuciosamente, considerando a época e o contexto de sua escrita. Algumas vezes o objetivo do livro está expresso em seu próprio texto: Pv 1.1-4; Jo 20.31; 2Pe 3.2. Determinar o objetivo do livro elimina aparentes contradições e facilita o exegeta a pensar como o escritor, olhando na mesma direção, facilitando a interpretação.
Por que João parece tão diferente de Lucas ao contar a mesma história? Porque o objetivo de João não era fazer uma acurada investigação dos fatos como Lucas (Lc 1.1-4) para possível comprovação histórica, mas mostrar para os crentes a verdadeira identidade do Senhor Jesus (Jo 20.31) e tudo o que ele escreve visa o cumprimento deste objetivo. Assim, ao ler Lucas, o intérprete terá em mente sua dedicação por detalhar fatos para alguém que, provavelmente, não conhecia a história de Jesus; mas ao ler João, pensará em um livro que visa mostrar a verdadeira personalidade do Cristo e causar um efeito vivificador nos leitores cristãos.
3.2.5. Quinta Regra da Hermenêutica
É indispensável consultar as passagens paralelas explicando as coisas espirituais pelas espirituais.
O intérprete deve consultar as passagens bíblicas que fazem referência umas às outras, possuem alguma ligação entre si ou tratam do mesmo assunto. Há três classes de paralelos:
Paralelos de palavras
Quando é feita uma busca de determinada palavra em outros textos para explicar seu significado no texto estudado.
Atos 13.22: “E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade”.
Com base neste texto, é possível admitir que Deus aprovou todos os atos de Davi? E quanto ao adultério, à poligamia, ao homicídio e outros erros que Davi cometeu? Para solucionar esta dificuldade de interpretação é necessário fazer uma consulta a outros textos bíblicos que falem a respeito de Davi.
1Sm 2.35: “Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre”.
Este texto mostra que Davi foi um homem segundo o coração de Deus em sua missão de rei-sacerdote, a qual cumpriu muito bem. O texto de 1Samuel 13.14 confirma esta verdade.
Paralelos de idéias
Mt 16.18: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
Com base neste texto, é possível admitir que o apóstolo Pedro é a pedra sobre a qual a igreja está edificada? Não seria muito perigoso que Jesus tivesse estruturado sua igreja sobre um homem, ainda que de Deus, limitado e sujeito a errar? Uma análise a respeito dessa idéia - a pedra fundamental - esclarece a questão.
Em Mateus 21.42, Jesus é a pedra angular. Em Efésios 2.20,21, Jesus é a Pedra sobre a qual os apóstolos, dos quais Pedro era um, trabalharam na edificação da igreja. Paulo afirma em 1Co 3.10,11 que Jesus é o único fundamento e que outro não pode ser posto. Por fim, o próprio Pedro diz em sua carta que Cristo é a Pedra.
1Pe 2.4-8: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos”.
Logo, a obscuridade e dificuldade de interpretação de um único texto isolado – Mateus 16.18 – são esclarecidas por inúmeros textos bíblicos que apontam Jesus como “a única Pedra angular”.
Paralelos de ensinos gerais
Algumas questões de difícil interpretação devem ser analisadas de acordo com os ensinos gerais da Bíblia. Por exemplo, Deus é descrito como Onisciente, Onipotente, Transcendente, Espírito Perfeito, mas há textos que descrevem Deus com características de homem, limitando-o a tempo, lugar, espaço, etc. Para compreender este tipo de aparente contradição, levam-se em consideração os ensinos gerais da Bíblia que, apesar de ser uma obra inspirada por Deus, foi escrita para seres humanos, e revela Deus de modo que os seres humanos o possam compreender. A esse fenômeno, a teologia chama antropomorfismo – Deus se revela com aparência de homem e antropopatia – Deus se revela com sentimentos de homem. Assim, quando há referência a Deus de maneira limitada, não se deve esquecer que faz parte daquela passagem isolada, sendo o ensino geral o que deve prevalecer para formulação de conceitos teológicos.
3.3. APLICAÇÃO
“A Bíblia não foi dada para aumentar o nosso conhecimento, mas para mudar a nossa vida”. D. L. Moody,
A Bíblia Sagrada não é um livro de caráter informativo, mas útil para transformar a vida do ser humano (Dt 32.46-47; Tg 1.22). Assim, ela deve servir para guiar a vida dos cristãos em todos os momentos da vida cotidiana. O uso das observações devidamente interpretadas na vida diária é a aplicação da Palavra de Deus. Para tanto, é necessário investigar o texto de forma prática, procurando um exemplo a ser seguido, um pecado a ser evitado, um modelo de oração, uma condição estabelecida por Deus, algum princípio a ser assimilado, etc. Para isso é preciso ser específico, relacionando o texto com situações reais da vida, sem generalizações, estabelecendo atitudes e um comportamento que condiga com o texto aplicado.
A questão cultural deve ser observada. Há distinção entre os elementos teológicos (imutáveis) e os elementos culturais (mutáveis) de um determinado preceito. A hermenêutica é a ferramenta para fazer tal distinção.
Uma auto-avaliação periódica é vital, pois o estudante de teologia, que será (ou já é) um professor entre os irmãos, deve ser um referencial, não apenas no conhecimento, mas no procedimento. Assim, é importante avaliar, à luz da Bíblia, o comportamento pessoal.
3.3.1. Passos para a Aplicação
Para um conhecimento pleno do texto são necessárias observação e interpretação exaustivas. Existe uma única interpretação, mas são possíveis várias aplicações, o que torna o texto útil para todos os tempos. Além disso, é importante conhecimento da realidade que envolve a vida do ser humano em geral e da comunidade da qual o estudante faz parte, para que sua aplicação tenha um foco real.
A partir conhecimento do texto e da realidade presente, a Palavra de Deus deve ser direcionada para a experiência pessoal (a Palavra é direcionada para a realidade humana, nunca o contrário). Essa relação torna a teoria do estudo em prática de vida cristã.
Meditar não é mero exercício mental ou uma tentativa de entrar em contato com algum “eu” superior em busca de desenvolvimento espiritual, como dizem algumas seitas orientais; é ponderar acerca das verdades reveladas na Bíblia, com o objetivo de que esta auxilie na renovação de uma mentalidade que esteja de acordo com a vontade do Senhor (Rm 12.1,2).
O propósito último de todo estudo bíblico é cumprir a vontade de Deus segundo revelado em Sua Palavra. Assim, o estudante deve ter a preocupação de avaliar e submeter sua vida a essa vontade.
4. MÉTODOS DE PESQUISA
No que se refere ao raciocínio, serão analisadas as justificações epistemológicas, ou seja, a apresentação de um argumento em que um conjunto de sentenças com relação lógica serve de razão para a aceitação de uma conclusão.
Para tanto, existem duas formas estruturais que diferem em importância na constituição das ciências. Estas são a dedução e a indução.
4.1. DEDUÇÃO
O método dedutivo procura transformar enunciados complexos, universais em particulares, de maneira que a conclusão resulte de uma ou várias premissas, fundamentando-se no raciocínio dedutivo.
Este método propõe solucionar problemas justificando o contexto da descoberta através da própria razão, sendo este método o símbolo do racionalismo moderno.
Ao ser identificado o problema, o pesquisador começa a conjecturar sobre possíveis soluções que poderiam explicá-lo; assim, trabalha a dedução sobre o problema geral para chegar às questões mais particulares. Exemplos:
Porém, se existe um erro em uma das premissas, a conclusão será equivocada:
4.1.1. Etapas do método de raciocínio dedutivo:
O problema ou fato em análise deve ser observado da forma como se apresenta, sem prevenções, preconceitos ou precipitações.
O problema deve ser fracionado em várias partes para que cada parte seja analisada separadamente, detalhando melhor a pesquisa.
Os problemas definidos ao fracionar, devem ser agrupados em graus, ou seja, comparação de problemas simples com outros também simples e problemas complexos com outros também complexos.
Seleção de parâmetros e dados que sejam necessariamente pertinentes à solução do problema.
A observação destas etapas diminui o risco da formulação de uma ou mais premissas equivocadas, maximizando a possibilidade de uma conclusão verdadeira.
4.2. INDUÇÃO
Na indução, a relação entre as premissas não é implicação (como na dedução), mas de probabilidade, ou seja, uma conclusão pode ser mais ou menos provável em relação às premissas que a sustentam. O método indutivo baseia-se no princípio da formulação de uma lei geral a partir de observações de alguns casos particulares. Observe-se o exemplo anterior: “Todos os homens são pecadores” é uma premissa para uma conclusão dedutiva, mas o que dá a certeza dessa premissa? A resposta para essa pergunta será encontrada em uma argumentação indutiva que toma como base as afirmações da Bíblia Sagrada. Da mesma forma, a premissa “Jesus é homem” é incompleta em si mesma se não for exposta a um raciocínio indutivo, pois, de fato, Jesus foi homem e de fato todos os homens são pecadores. Se não houver uma argumentação indutiva para a formulação hipotética dessas premissas, a conclusão será absurda: Jesus é pecador.
Um exemplo para diferenciar os dois métodos:
4.2.1. Método indutivo segundo Galileu
Segundo Galileu, a lei não exprime a totalidade, entretanto, expressa uma parte dos fenômenos; assim, é possível a aplicação da conclusão de um ou mais fatos particulares para todos os fatos semelhantes.
1) Observação: Coleta de dados sobre o fenômeno;
2) Análise: Relação quantitativa entre os elementos do fenômeno;
3) Hipótese: Uma pressuposição do conhecimento sobre o fenômeno;
4) Teste experimental: Comprovação do conhecimento;
5) Modelo: Representação do conhecimento;
6) Generalização: Formulação de lei científica com base nos resultados.
4.2.2. Método indutivo segundo Bacon
O método indutivo proposto por Bacon baseia-se na observação sistemática e na experiência dos fenômenos e fatos naturais, de modo que cabe à experiência confirmar a verdade. Esse método tenta impedir a formulação de generalizações que extrapolem os limites de validade dos resultados alcançados em determinado experimento.
1) Experimentação: Coleta de dados sobre o fenômeno de forma experimental;
2) Formulação de hipóteses: Fundamentadas na análise dos resultados obtidos dos experimentos, buscando explicar a relação causal dos fatos entre si;
3) Repetição da experimentação: Por outros cientistas em outros lugares, com a finalidade de acumular dados que possam servir para a formulação de hipóteses;
4) Repetição do experimento: Para teste das hipóteses, procurando obter novos dados e novas evidências que as confirmem;
5) Generalização: Formulação das leis, pelas evidências obtidas, generalizando as explicações para todos os fenômenos da mesma espécie.
4.2.3. Método indutivo no estudo da Bíblia
Mesmo nos argumentos dedutivos existe um aspecto indutivo, pois nem todas as idéias correspondem com a realidade e nem todos os argumentos tidos como verdadeiros podem ser provados.
Por exemplo, como considerar a idéia da existência de Deus? Com base em um argumento indutivo, pois uma visão ateísta, ainda que lógica, não pode explicar essa idéia. A Teologia Reformada lista argumentos em prol da existência de Deus, mas estes são baseados na Bíblia, ou seja, a base destes argumentos não é aceita por todos os homens e não pode ser comprovada cientificamente. Exemplos do pensamento indutivo na formulação de doutrinas e conceitos bíblicos:
A Trindade
É correto afirmar que a Bíblia não usa o termo “Trindade” para se referir à divindade em nenhum único texto. Como chegar, com clareza, à doutrina da Trindade?
Deus não se arrepende
Embora o estudante possa ter uma primeira impressão de que se trata de um argumento dedutivo, o mesmo não ocorre. Não é possível – senão pela argumentação – provar, de forma científica, a existência de Deus, a divindade ou a pessoalidade do Espírito santo ou mesmo a inerrância da Bíblia, da qual procedem as bases para a elaboração dessas premissas.
Essa situação se repete em questões como a predestinação ou livre-arbítrio, dicotomia ou tricotomia, contemporaneidade ou não dos dons espirituais, entre outras questões que apenas podem ser temas de debates com base nos argumentos indutivos dos envolvidos, não podendo ser provados cientificamente, ainda que alguma das escolas teológicas possua mais textos bíblicos ou uma melhor argumentação a favor de suas doutrinas.
É comum que o iniciante em estudos bíblicos entenda a indução como acréscimo à Bíblia, pois formula doutrinas com base em premissas e, tais doutrinas, nem sempre são nomeadas na Bíblia. É o caso da Trindade, como supracitado, da onisciência de Deus, pois é uma designação não-bíblica, do próprio termo “teologia”, que soa em extremo estranho para alguns o “estudo de Deus”, dos sacramentos, do costume de celebrá-los mensal ou anualmente, entre tantos outros. É fato que não se deve acrescentar à Bíblia coisa alguma, portanto, o estudante deve se resumir ao que ela diz. Porém, pesquisas baseadas em dedução, indução, lógica ou princípios, não devem deixar de ser realizadas e ensinadas por medo de lidar com as implicações resultantes.
5. MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO
5.1. MÉTODO ANALÍTICO DE ESTUDO BÍBILICO
O método analítico consiste em um exame cuidadoso do versículo ou da passagem bíblica, estudando o objeto em seus pormenores, atentando para os menores aspectos, analisando as partes que compõe o todo.
Para que o estudante selecione versículos para análise e pesquisa, é importante que tenha um programa de leitura bíblica constante e devocional.
5.1.1. Análise de um versículo
1) Deve ser escolhido um versículo que apresente uma idéia completa em si mesmo ou, caso contrário, o texto escolhido deve ser delimitado em seu contexto;
2) Observações ou aplicações devem ser anotadas, dificuldades devem ser detalhadamente especificadas. Isso é feito através de perguntas para ao versículo: Quem? O que? Onde? Quando? Por quê? Como?
3) Verbos e substantivos devem ser anotados nessa parte;
4) Reproduzir o versículo (ou versículos) com palavras próprias e expressar a idéia central do autor facilitam a compreensão;
5) Procurar textos paralelos ou idéias semelhantes pode ajudar a esclarecer possíveis dificuldades;
6) Extrair a idéia central do versículo. Geralmente, quando o texto convoca a uma ação, a idéia central estará em seus verbos; quando é uma passagem de caráter doutrinário, estará em seus substantivos;
7) Após listar as possíveis aplicações para o texto, é necessário escolher, em oração, uma delas, especificando um problema, um exemplo de problema e uma solução prática extraída do texto.
5.1.2. Análise de uma passagem mais extensa
1) Leitura cuidadosa da passagem, anotando todas as observações – o que deverá ser feito em cada passo do estudo. Isso é feito através de perguntas para a passagem: Quem? O que? Onde? Quando? Por quê? Como?
2) Verbos e substantivos devem ser anotados nessa parte;
3) Elaboração de uma lista onde conste a idéia central de cada versículo,
4) Encontrar o fluxo da argumentação do autor, relacionando os versículos entre si;
5) Ligação dos pensamentos-chave em uma única idéia central. Para tanto, é necessário fazer a divisão do texto em parágrafos ou pensamentos, pois a divisão em capítulos e versículos não é inspirada e nem sempre fornece uma sistemática clara do pensamento do autor.
6) Identificação das aplicações e escolha da mais relevante para o estudo em questão, estabelecendo o problema, o exemplo do problema e a solução proposta pelo texto.
5.2. MÉTODO SINTÉTICO DE ESTUDO BÍBILICO
Em contraste com o método analítico, o sintético busca uma compreensão holística de cada livro da Bíblia, em sua unidade, não dedicando esforço hermenêutico aos pormenores, mas à mensagem geral, considerando questões como o propósito do escritor, o que este tinha em mente quando da escrita, o método e os caminhos usados para atingir seus objetivos e outras questões tais.
Este é o melhor método para a compreensão da mensagem central de cada livro da Bíblia, que capacita o estudante a compreender melhor o autor de cada obra inspirada e evita erros de interpretação.
1) Leitura cuidadosa de todo o livro, anotando:
a) As observações – pensamentos-chave e argumentos principais que ocorrem pelo livro, além de acontecimentos, lugares e nomes. o que deverá ser feito em cada passo do estudo.
b) As dificuldades, sem generalizações; é importante especificar o que não foi compreendido;
c) Referências em outros livros ao assunto tratado pelo escritor;
d) Possíveis aplicações para as passagens.
2) Identificação do tema central do livro. Para isso, é necessário que:
a) O estudante leia o livro quantas vezes forem necessárias;
b) Não permita que a divisão em capítulos e versículos destrua a linha de raciocínio presente na composição original;
c) Desenvolva um esboço do livro, a partir de títulos ou frases-resumo para cada parte;
d) A partir deste esboço, resuma os vários títulos em um título principal que manifeste o tema encontrado nas porções do livro;
3) Uma visão geral do conteúdo do livro deve ser desenvolvida:
a) O escritor do livro e o que este revela acerca daquele;
b) Os destinatários originais do livro e os fatos que envolvem estes últimos;
c) Local, época, circunstâncias e ambiente em que o livro foi escrito;
d) Motivos da escrita, como um problema que levou à sua escrita (Gl 1.6) ou um desejo de compartilhar conhecimento (Pv 1.1-4), etc.
4) Verificação do estilo utilizado pelo autor na apresentação de seus argumentos.
5) Verificação do papel e das contribuições que o livro estudado traz ao todo da Bíblia.
6) Escolher uma aplicação dentre as que forem possíveis ao livro.
Para enriquecimento da pesquisa bíblica, o estudante pode utilizar os dois métodos acima estudados, embora sejam contrastantes, são complementares um ao outro.
5.3. MÉTODO TEMÁTICO DE ESTUDO BÍBILICO
O método tópico ou temático apresenta princípios técnicos para o estudo Bíblico por temas, ou seja, é a investigação sobre um tema escolhido, em toda a Bíblia ou em determinada parte dela. Este método de estudo não está diretamente ligado ao texto (embora jamais seja desvinculado do mesmo), mas ao assunto de que trata.
Feita a escolha de um tema para análise, é importante pesquisá-lo por toda a Bíblia ou em determinada parte dela, como por exemplo, o estudo da salvação segundo a carta aos Romanos ou o estudo das profecias messiânicas segundo Isaías. Essa delimitação pode ser feita devido à extensão do tema.
1) Escolha do tema;
2) Delimitação do material bíblico para estudo: será analisado um livro, uma das divisões da Bíblia (Pentateuco, históricos, Poéticos, etc.) ou a Bíblia como um todo;
3) Escolha de um objetivo para o estudo do tema, para que o estudante possa ter um norte a seguir durante o processo; escolher um assunto e começar a ler versículos sobre ele sem um propósito final pode ajudar a adquirir conhecimento, mas não levará a um estudo sistemático e lógico;
4) Relacionar as referências concernentes ao tema no livro escolhido; isso deve ser feito com o auxílio de uma concordância bíblica, referências cruzadas (a maioria das bíblias trazem esse recurso em seu rodapé) ou programa de computador;
5) Anotação das observações que deverá ser realizada durante todo o estudo; nesse ponto, devem ser anotadas:
a) Dificuldades devidamente especificadas;
b) Possíveis aplicações para o conteúdo;
c) Definição do significado das palavras;
6) Extrair o pensamento principal de cada referência;
7) Elaboração de uma cadeia de categorias para os versículos anotados, mediante semelhanças entre estes, com base no pensamento-chave de cada um;
8) Formação de um esboço segundo as categorias encontradas para os versículos; nesse ponto, é importante haver lógica, de preferência evolutiva;
9) Extrair do esboço o pensamento-chave de cada categoria;
10) Extrair um pensamento principal de todo o esquema traçado até este ponto;
11) Por fim, é importante trabalhar as aplicações práticas nas quais a pesquisa resultou.
5.4. MÉTODO BIOGRÁFICO DE ESTUDO BÍBILICO
Para desenvolver este método de estudo, o pesquisador pode se valer dos princípios do método temático a fim de encontrar, listar e extrair o conteúdo dos trechos ou versículos bíblicos a respeito da vida de determinado personagem.
O método biográfico é um estudo a respeito da vida dos personagens bíblicos com o propósito de extrair aplicações práticas para a vida da Igreja de Cristo, sejam eles positivos – a serem imitados ou negativos – a serem evitados. O material para esse tipo de estudo é farto, pois há cerca de dois mil e novecentos personagens na Bíblia.
1) A escolha do personagem a ser estudado; se a biografia deste for muito extensa ou variada, é possível delimitar o tema a determinado período de sua vida, por exemplo, a vida de Paulo pode ser estudada durante as viagens missionárias, durante a estadia em determinada região ou cidade, durante os anos de prisão, etc.
2) Observações devem ser feitas e anotadas durante todo o estudo;
3) Com o auxílio de uma concordância bíblica, referências cruzadas (a maioria das bíblias trazem esse recurso em seu rodapé) ou programa de computador, o estudante deve relacionar os principais acontecimentos da vida deste personagem;
4) O pano fundo, o contexto histórico, as circunstâncias pessoais e culturais devem ser levadas em conta;
5) Em ordem cronológica, deve ser feito um resumo imparcial da vida do personagem, listando acontecimentos importantes em parágrafos;
6) O próximo passo é a intitulação de cada parágrafo, de modo a definir quem foi o personagem e o que ele fez;
7) É importante registrar as qualidades e as debilidades, acertos e erros observados;
8) Definição de um versículo-chave sobre a vida desta pessoa e, a partir deste, uma frase central que defina um conceito negativo ou positivo a respeito do mesmo;
9) Observação dos valores, motivações e objetivos do personagem;
10) Contraste com outras figuras bíblicas;
11) Das aplicações possíveis, escolher a mais relevante para o objetivo do estudo.
Referências
BERKHOF, Louis. Princípios de interpretação Bíblica. JUERP, Rio de Janeiro
Bíblia de Estudo de Genebra, Edição Ampliada.
FELTRIN, Marcelo. Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, IBCU.
GADELHA, Vítor. Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, Apostila Teológica.
HENRICHSEN, Walter. Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, ed. Mundo Cristão, 1993.
LACHLER, Karl. Prega a Palavra. Edições Nova vida
MARQUES, Max Clayton. A Pregação e o Pregador. São Paulo, 2010. Apostila Teológica
MARTIN, Walter. Curso Interdenominacional de Teologia. Jundiaí, ICP, 2003
REIFLER, Hans Ulrich. A pregação ao alcance de todos. Edições Nova Vida